Sim, ela está se tornando mais cara com o passar do tempo. A protagonista do nosso agronegócio, com cada vez mais papéis atribuídos a si, está encarecendo, e nós, como agrônomos e sementeiros, precisamos saber o porquê.
Por muito tempo, e, por muitas vezes negligenciada, a semente hoje, tem recebido sua merecida atenção. Dentre as importâncias atribuídas a ela, destacam-se aquelas que a consideram como fonte riquíssima de alimento, material responsável pela perpetuação das espécies no tempo e no espaço, matéria prima para pesquisa e uma grande responsável na solução, de um dos principais desafios da humanidade no futuro: como alimentar o mundo!
A semente, em conjunto com o homem e a terra, forma o tripé da agricultura mundial, sendo ainda, um agente transformador da humanidade.
Mais que isso, esse pequeno pacote é um excelente veículo de tecnologias geradas, sendo estrategicamente chamada de chip, em consequência de décadas de avanços no melhoramento genético, aprimoramento, investimento e empenho da ciência. Tudo, inserido na semente, que detentora de informações referentes a alta produtividade, vai se expressar onde de fato interessa, no campo do agricultor.
Investe-se em qualidade de semente, na certeza da grande responsabilidade que ela carrega dentro de si, do futuro desempenho de uma planta, por consequência, a produtividade da lavoura comercial e o êxito financeiro do agricultor, que pagou por ela e está cada dia mais munido de informações e direitos.
Para expressar todas essas características no campo, a semente deve apresentar os atributos de qualidade que a definem e lhes são exclusivos: atributos de qualidade genética, física, fisiológica e qualidade sanitária.
Hoje no Brasil, conseguimos rastrear essa qualidade do momento que a semente é formada até ser entregue ao agricultor. Através da certificação de sementes, sistema criado internacionalmente, garante-se a autenticidade da semente que é vendida aos agricultores, fornecendo-lhes, a confiança de que o insumo adquirido, realmente possui as características de qualidade declaradas pelo produtor de sementes.
Pela nossa legislação, hoje vigente, essa certificação de sementes, pode ser feita por uma entidade de certificação (pessoa jurídica contratada por um produtor, representada pelo seu RT devidamente inscrito no RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas), ou por um certificador de produção própria (pode ser pessoa física ou jurídica), sendo que o que todas tem em comum é o comprometimento com o agricultor, de lhe entregar um material que valha todo o seu investimento.
Dentre as vantagens da certificação de sementes, destacam-se: inovação tecnológica (sementes certificadas são o veículo de introdução e disseminação do que há de mais recente no melhoramento genético de plantas e/ou biotecnologia). Garantia de origem (pelo controle de gerações, se sabe quantas vezes aquela cultivar – devidamente inscrita no Registro Nacional de Cultivares (RNC) foi multiplicada após ter sido liberada pelo melhorista que a desenvolveu). Qualidade (porque pela análise de seus atributos, o agricultor tem a garantia de que aquela semente vai germinar e que não vai infestar a sua lavoura, o que resulta em maior rendimento e lucratividade). Garantia documentada (na comercialização, o produtor ou entidade certificadora, deve assegurar a correta identificação das sementes, por meio de nota fiscal, com informações do produtor e das cópias do atestado de origem genética ou do certificado de semente, em função de sua classe e categoria). E segurança (certeza da legalidade, ou seja, o agricultor está adquirindo uma semente produzida sob respaldo legal do governo).
Dessa forma, o que determina o sucesso de um sistema de certificação de sementes é a demanda de sementes certificadas por parte dos agricultores cientes das vantagens do seu uso. Para isso, o país precisa da habilidade em criar um mercado forte, com um arcabouço legal estruturado e que transmita segurança, e ainda, que seja capaz de prover ao agricultor, sementes em quantidade e qualidade suficiente. O importante não é o agricultor voltar na próxima safra, o importante, é que ele tenha confiança e segurança para voltar sempre.
Raquel Pires
Raquel Pires é Engenheira Agrônoma (UFVJM), Mestre em Agronomia/Fitotecnia (UFV) e Doutora em Agronomia/Fitotecnia pela (UFLA). Realizou parte do doutorado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Lavras no Departamento de Agricultura, Setor de Sementes. É Responsável Técnica do Laboratório de Análise de Sementes da UFLA e representante da UFLA na Comissão de Sementes e Mudas de Minas Gerais.
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