Controle Biológico: alternativa sustentável para o Manejo Integrado de Doenças de Plantas

            De acordo com pesquisadores da Califórnia, estima-se que de 10 a 40% das produções agrícolas são perdidas devido ao ataque de pragas. Transformando isso em valores, chega-se à impressionante cifra de US$ 1,4 trilhão, que corresponde à 5% do PIB mundial. No Brasil, fica na casa dos R$ 55 bilhões. De acordo com a FAO (2006) pragas são todos os organismos nocivos ao desenvolvimento das culturas agrícolas, como artrópodes (principalmente os insetos, mas também ácaros), plantas daninhas e microrganismos fitopatogênicos, sobretudo fungos, mas também bactérias, vírus e nematóides. As perdas não são somente econômicas, mas também sociais: a epidemia da requeima da batata, causada por Phytophthora infestans, ocorrida no século XIX na Irlanda, é somente um exemplo sombrio, causando mais de 1 milhão de mortes e a emigração em massa para outros países, principalmente os Estados Unidos.

            A situação seria pior se não houvesse o desenvolvimento de estratégias de controle de doenças de plantas. O controle químico foi e ainda é, desde a sua descoberta por Millardet, no século XIX, o método mais utilizado no controle de fitopatógenos. Contudo, não deve ser a única alternativa de combate a esses microrganismos tão prejudiciais à agricultura. Outros métodos também devem ser empregados em conjunto, dentro do que chamamos de MID, Manejo Integrado de Doenças de Plantas (Bergamin Filho & Amorim, 2011). Já é comprovado que somente a utilização de um ou poucos métodos de controle não é mais eficaz. Nesse contexto, deve-se empregar não somente os defensivos químicos, mas também métodos físicos, culturais, a utilização de plantas que apresentem resistência genética e também o controle biológico.

            De acordo com Cooker& Baker (1983), o controle biológico de doenças de plantas é “a redução do inoculo ou das atividades determinantes da doença, realizada através de um ou mais organismos que não o homem”, sendo uma tentativa de transportar para o ambiente agrícola aquilo que acontece normalmente na natureza. Neste ambiente, os microrganismos antagonistas desempenham papel importante no equilíbro das populações de fitopatógenos (Bedento et al., 2011).

            Mas como os agentes de controle biológico, ou os biocontroladores agem? São três os principais mecanismos utilizados por esses microrganismos benéficos: a competição, seja por espaço, por nutrientes e íons de ferro; antibiose, secreção de metabólitos capazes de inibir ou impedir o desenvolvimento de populações de fitopatógenos, incluindo antibióticos e compostos voláteis; e parasitismo, relação nutricional entre dois seres vivos em que um deles, o parasita, obtém todo ou parte de seu alimento a partir e às custas do outro, o hospedeiro. A aplicação de agentes de biocontrole em solo ou órgãos propagativos reduzirá o inoculo inicial e a pulverização em campo (semelhante aos defensivos químicos) podem reduzir a taxa de progresso da doença (Mizubuti & Maffia, 2006).

Ainda que haja poucos produtos para controle biológico disponíveis no mercado, existem experiências bem-sucedidas. Espécies de fungos do gênero Trichoderma (principalmente T. harzianum e T. asperellum) são os mais utilizados como agentes de biocontrole, e são os mais numerosos dentre os produtos comerciais disponíveis, úteis para o controle sobretudo de patógenos de solo, como Sclerotinia sclerotiorum, Rhizoctonia solani e nematóides do gênero Meloidogyne sp. Há também produtos à base dos gêneros de bactérias Bacillus, Pseudomonas e Streptomyces. Existem pesquisas que demonstram a capacidade de vírus bacteriófagos em controlar com sucesso a temida murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum. Vale lembrar que muitos desses produtos podem ainda desencadear um fenômeno importante, que é a indução de mecanismos de resistência nas plantas. Nem todos os produtos baseados nos organismos acima citados são comercializados no Brasil.

As grandes vantagens do uso de produtos para o controle biológico são os baixos impactos ambientais da utilização destes, a possibilidade da redução da utilização de defensivos químicos ou até mesmo a combinação de produtos biológicos com fungicidas. Devemos nos lembrar que no manejo integrado devemos buscar o equilíbrio do sistema agrícola, buscando manter a população dos organismos nocivos (no caso os fitopatógenos) abaixo do limiar de dano econômico e minimizar os efeitos deletérios no meio ambiente (Chiarappa, 1974). Desta forma, se consegue produzir alimentos de forma sustentável.

Bruno Miranda


Bruno Miranda é Engenheiro Agrônomo (Faculdades Integradas da Terra de Brasília), mestre em Fitopatologia (Universidade de Brasília – UnB) e doutor em Fitopatologia (Universidade Federal de Viçosa). Possui especial interesse em Manejo Integral de Doenças de Plantas e Controle Biológico de Plantas Daninhas.

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